Proposta de Show

Raízes brasileiras do tango


Novo show do Grupo LiberTango celebra os 150 anos de Ernesto Nazareth e mostra as feições brasileiras de um ritmo consagrado na Argentina

A rivalidade é só no futebol. Porque o tango e os ritmos argentinos e latinos estão na base da formação da música brasileira. Quem quiser conferir como esse encontro ocorreu a dica é o novo show do Grupo LiberTango, que este ano homenageia os 150 anos do genial compositor e pianista Ernesto Nazareth.

O grupo é formado pela pianista argentina radicada no Rio de Janeiro Estela Caldi e os seus brasileiríssimos filhos Alexandre Caldi (saxofones e flautas) e Marcelo Caldi (acordeom), ambos compositores e arranjadores de mão cheia, cujas obras revelam o sotaque tangueado do samba, choro, baião e xote, entre outros.


A obra de Ernesto Nazareth testemunha esse diálogo musical entre brasileiros e hermanos no final do século XIX e início do século XX. Das mais de 200 peças de sua autoria, a maioria, 88, são tangos, os chamados “tangos brasileiros”, que hoje são considerados subgênero do choro, semelhante ao maxixe e à polca.


Habanera


Conforme Alexandre Caldi, a palavra “tango” foi utilizada durante uma época para definir gêneros bem distintos na Argentina e no Brasil, mas a justificativa para se usar um mesmo termo está nas suas origens em comum. Um exemplo dessa raiz é a habanera, um ritmo cubano que influenciou tanto portenhos quanto cariocas e inspirou Nazareth a compor “Plangente”, que está no roteiro do show.


Outro destaque é o tango “9 de julho”, homenagem à data de independência da Argentina (tendo sido composta no ano do centenário do acontecimento, em 1916). “É evidente que Nazareth tinha fortes ligações musicais com nosso país vizinho. Ele inclusive esteve algumas vezes em Buenos Aires”, conta Marcelo Caldi. “O LiberTango vem resgatar o ‘tango brasileiro’ de Nazareth mostrando o seu paralelo com o tango argentino e como gênero-chave na afirmação da nossa música brasileira”, completa Alexandre.

O show traz ainda sucessos que ficaram conhecidos na voz de Carlos Gardel nos anos 1920 e 1930, como “Volver” e “Por una cabeza”, além dos clássicos de Piazzolla, como as quatro estações portenhas, “Siempre se vuelve a Buenos Aires” e “Libertango”.  O roteiro abre espaço ainda para as autorais “Estrela”, homenagem à mãe feita por Alexandre, e “Léo”, composta por Marcelo para o irmão.

LiberTango

O Grupo LiberTango mantém vivo o legado do argentino Astor Piazzolla em terras brasileiras há 17 anos e é a prova do profundo diálogo musical entre os dois maiores países da América do Sul. Baseado no Rio de Janeiro, o trio é formado pela pianista Estela Caldi e por dois de seus filhos, Alexandre Caldi (saxofones e flautas) e Marcelo Caldi (acordeom).


Possui três discos gravados: “LiberTango – a música de Astor Piazzolla” (Delira, 2005), “Cierra tus ojos y escucha” (Delira, 2007) e “Porteño” (Delira, 2010), sendo que o mais recente também abarca obras do tango tradicional de Carlos Gardel como “El Día que me Quieras” (parceria com Alfredo Le Pera e Juan Carlos Calderon), “Por una Cabeza” (com Alfredo Le Pera) e “Mano a Mano” (com José Razzano e Celedonio Flores).

O repertório instrumental do show consagra as quatro estações de Piazzolla, “Primavera Porteña”, “Verano Porteño”, “Otoño Porteño” e “Invierno Porteño”. Outro sucesso revisitado é “Adiós Nonino”.

“O LiberTango quer mostrar que Piazzolla toca fundo em uma imensa quantidade de pessoas, independentemente de suas nacionalidades, o que nos leva a refletir sobre o quanto esse estilo é universal”, resume Estela Caldi. A ideia é recriar o repertório do artista, com novos e ousados arranjos, assinados pelos dois irmãos, resguardando a essência musical do espírito portenho.


Para Alexandre, “há um respeito à tradição e ao mesmo tempo uma afirmação da nossa liberdade criativa”. Já Marcelo aponta que as raízes do tango e da música brasileira são basicamente as mesmas, “essa mistura de africano, índio e europeu que só tem aqui nas Américas”. O elo familiar demonstra que a musicalidade latino-americana, de fato, atravessa fronteiras.


O grupo abriu os horizontes em 2012 para um repertório mais autoral, com peças de Alexandre e Marcelo. A homenagem a Ernesto Nazareth, iniciada em 2013, vem por sua vez demonstrar que o leque do tango é muito mais abrangente do que se imagina e tem uma penetração determinante na formação da música brasileira.


Os amantes do tango no Brasil costumam lotar as apresentações do grupo. O sucesso mais recente foi na Sala Baden Powell, com a estreia de um show em homenagem a Nazareth, em janeiro de 2013. Em 2012 o grupo foi sucesso também no Centro Municipal de Referência da Música Carioca e se apresentou no Programa Sala de Concerto, com Lauro Gomes, na Rádio MEC.


O LiberTango bateu recorde de público no Teatro Carlos Gomes, em agosto de 2011, e foi casa cheia no Teatro da Academia Brasileira de Letras, em novembro do mesmo ano. Para 2013 o trio será a atração do Festival Internacional Tango Brasil, promovido pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

 

 

 

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